terça-feira, 13 de maio de 2014

Onaldo Queiroga - Do Sonho Ao Pesadelo



um conto-uma crônica


Era madrugada, um imenso oceano de águas verdes, ondas que vinham e, imediatamente, se recolhiam, banhando as areias da praia. Um infinito horizonte ao alcance do nosso olhar. Em meio às águas, numa linha distante que une mar e céu, lentamente o sol começou a se levantar, até que, com sua energia e luz dourada, transformou a escuridão no amanhecer de um novo dia.







Com a manhã, abri os olhos. No jardim, vi o balé de um beija-flor. Sabiás, curiós, golados, galos de campina e canários voavam e entoavam uma bela sinfonia. Havia chovido, e o vento, balançando os arvoredos, regava o chão. Levantei-me e liguei o rádio. Um cantador dedilhando sua viola, com sua poesia divina do improviso, anunciava a felicidade da invernada que molhava o chão, enchia ribeirões, açudes e rios. Sobre a mesa, o café matinal. A família dialogava e pedia a Deus paz para o novo dia. Ao deixar a residência, vi crianças, adultos e idosos, uns caminhado, outros pedalando suas bicicletas, e muitos exercitando-se pelas areias do Cabo Branco. Pelas ruas, um trânsito calmo, sem engarrafamentos, buzinas e insultos.



O céu já se fazia azul, e o sol, com o amigo vento, havia espantado as nuvens. No ar, o perfume das flores, caminhos que nos mostravam sorrisos e gentilezas. Era um dia branco, que fluiu com o sossego dos olhares cordiais. Homens falavam do amor de Deus. No final da tarde, o crepúsculo se fez mais belo. De forma colossal,o sol encerrou o dia, entregando-nos a noite. Na telinha, novelas que nos mostravam a harmonia familiar e o equilíbrio entre a liberdade e o respeito. Telejornais exibiam matérias incentivadoras do esporte, música, teatro, pintura e leitura. Falava-se de solidariedade.



Mas, já era hora de se recolher, de se entregar novamente ao sono. Para espanto meu, acordei. Era noite ainda, e eu pensava que estava em Pasárgada! Foi, então, que me dei conta que tudo não passou de um sonho. A TV estava ainda ligada. Mostrava bárbaros que arrancaram vasos sanitários de um banheiro de um campo de futebol e, como trogloditas, lançaram-no do alto da arquibancada em direção aos torcedores do time adversário. Um morto e vários feridos. Mudei de canal, vi “profetas” pregando e curando para um mar de pessoas humildes, sofridas, calejadas de serem exploradas por este mundo tão promíscuo. Mais uma fez, troquei de canal. Agora, uma criança assassinada friamente. Os acusados? O pai e a madrasta. Em seguida, outro crime, por engano e sob a égide da famigerada “justiça com as próprias mãos”, em que um grupo de pessoas mata, mediante estúpido linchamento, uma inocente mulher.






Do sonho ao pesadelo. Meu Deus! Que mundo é esse? Tende piedade de nós. 



Recebido por e-mail 

onaldoqueiroga@oi.com.br



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