quarta-feira, 30 de julho de 2014

Mário Prata -Brígida Brito - Os Novos Cinquentões...

Cantinho da paz

- Não, não se fazem mais velhos como antigamente.



- É verdade. Não se fazem.



- Veja você. Você está com 54. Lembra quando você era jovem, quem tinha 54 era um velhinho, não era?


- Avô, avô......

- Então. E as mulheres de 54?

- Bisavós, bisavós.....

- Não exagera. Avós, também. Aliás, mulher de 40 já tava velhinha. Todas de preto. Iam à igreja. A mãe da gente tinha 40, né? Era uma santa, né? Imagina se fazia o que as de 40 fazem hoje...

- Onde é que você quer chegar?

- É que a nossa geração mudou tudo. Mudou até a velhice. A gente é de uma turma que rompeu com tudo. Esse negócio de Beatles, Rolling Stone, pílula, tropicalismo, isso fez mudar tudo.

- Prossiga.

- É que a gente mudou os velhos que a gente ia ser. Veja a sua roupa. Você esta vestido igual a um cara de 20, 30 anos. Você não está de terno e gravata como os cinquentões de antigamente.

- Você está é justificando a nossa velhice.

- Que velhice, cara! Você hoje faz tudo que um cara de 20 faz.

- Mais ou menos, mais ou menos.

- A nível comportamental.....

- A nível, cara?

- Desculpa, mas comportalmente falando, ficou tudo igual. O cara de hoje, com 50, não se comporta mais como um cara de 50 dos anos 50. Nivelou, entendeu?

- Explica melhor.

- As meninas também. As nossas amigas de 40, por exemplo.

- Melhor não citar nomes.

- É que hoje elas fazem coisas que a gente não poderia imaginar que a mãe da gente fizesse com a idade delas. Estão todas aí, inteiraças. Liberadas, está entendendo? Mandando ver. E nós também. Veja a roupa do seu filho. Igual à sua. Antigamente um cara de 23 se vestia completamente diferente de um cara de 53. Ou você alguma vez viu o seu pai de tênis? Acho que até para jogar tênis ele devia jogar de sapato.

- Se a gente então não está velho, vai ficar velho quando?

- Pois é aí que eu quero chegar. Não existe mais a velhice. Nos anos 60 a gente fez tanta zorra que, sem querer, garantimos o nosso futuro sem velhice. Pode escrever aí. Não existe mais velhice.

- Ficamos imortais?

- Quase. Antigamente o sujeito começava a morrer mais cedo. Ficava uns 10, 15 anos morrendo. Agora não, ele vai ficar até os 80, 90. Daí ele fica doente e morre logo. Acabou a agonia. Pensa bem: a gente está com 50. Temos mais uns 30 pela frente. Firmes. É isso, cara: não existe mais a velhice. E fomos nós que detonamos com ela.

- Mas tem o cabelo branco, as rugas, a barriguinha.....

- Detalhes, cara, detalhes. O cabelo branco, a ruga e a barriguinha hoje em dia são encarados como charme. Mesmo porque os cabelos não ficam mais tão brancos como nos nossos pais. E as rugas também. Os velhos estão cada vez com menos rugas. E pra barriguinha, estão aí as academias. Tem fórmulas.

- E isso vale também para as mulheres, né?

- Principalmente. Eu estava falando nas nossas amigas de 40. Pega as de 50. Tudo com corpinho de 30. Cabeça de 20. Tão até melhores do que nós, cara.

- Peraí. a sua namorada não tem nem 30.

- E isso me preocupa. Tem cabeça de 50. De 50 das antigas.

- Eu não estou entendendo aonde é que você quer chegar.

- Quero chegar nos 90. Me passa o uísque. Me passa o cigarro. Me passa a saudade que eu tenho dos meus 20 anos. Me passa a vida a limpo. E mete os Beatles aí na radiovitrola. Help, please.

Mário Prata

Brígida Brito
Médica e terapeuta de regressão

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 0-1/06/2014
Espaço do Ser

Nenhum comentário:

Postar um comentário