Visão futurista
A novela Barriga de Aluguel lançou uma grande polêmica há 25 anos

Cláudia Abreu
Atualmente, mulheres que não conseguem gerar seus próprios filhos já podem contar com algum respaldo da legislação, que ainda é complexa, porém, o assunto foi motivo de espanto e muita briga no início da década de 80. Visionária, Glória Perez discutiu o tema na trama Barriga de Aluguel, história que surgiu bem antes, em 1985, quando a autora leu um texto científico relacionado e chegou a acompanhar o processo de inseminação artificial, aumentando o seu conhecimento e a vontade de levar o assunto para a telinha, que não foi aprovado logo de cara. Ela viria a escrever a novela anos depois, após uma breve passagem pela extinta TV Manchete. "É só uma questão de perceber as coisas que já estão aí e imaginar o próximo passo. Eu já havia lido um artigo sobre o assunto", relembrou a autora.
E tudo começou...
Cassia Kis Magro e Cláudia Abreu
Ana e Clara viveram momentos difíceis durante a gestão do bebê. Quem era a mãe, de fato?
Em seu primeiro papel de destaque, Cláudia Abreu ainda não era mãe na vida real, porém, emocionou o público na pele da ambiciosa dançarina Clara, que topou ceder seu ventre (em troca de US$ 30 mil) para um casal que não podia ter filhos.
Após fazer um acordo com a jogadora de vôlei Ana (Cassia Kis Magro) e o empresário Zeca (Victor Fasano), a jovem passou a gerar um bebê que não era seu. Mas a história trouxe muita confusão quando ela começou a se apaixonar pela gestação e, inevitavelmente, a amar o feto que esperava, o que a fez mudar de ideia quanto a entregá-lo para Ana e Zeca.
"A Clara era amada, mas muita gente me dava conselhos. Acho que sempre teve o entendimento que ela não era má, e sim confusa. Era uma situação bem divertida nas ruas, foi uma novela que mobilizou", disse a atriz, em entrevista recente.
Humberto Martins
Humberto foi um caminhoneiro apaixonado
Na trama, o ainda cabeludo Humberto Martins deu vida ao caminhoneiro João, homem simples, ex-namorado e um eterno apaixonado por Clara (Cláudia Abreu).Seu vocabulário era repleto de frases de pára-choque de caminhão.
Ritinha era a melhor amiga da protagonista Clara
Acordo selado
E na prática, quem tinha direito sobre a criança: a mulher que levou a gestação durante nove meses ou o casal que doou o material genético para a inseminação? Para auxiliá-la, Gloria Perez contou com uma assessoria jurídica para escrever o final dessa emocionante trama. No primeiro julgamento, Clara ganhou a guarda do bebê, mas Ana recorreu e, em seguida, foi considerada a mãe biológica da criança. Porém, o fim da novela mostrou certa coerência quando as duas mulheres acabaram entrando em um acordo longe dos tribunais, dispostas a se revezarem na criação do menino.
E 'toda' a família ficou unida no final do folhetim
Dois veteranos
Beatriz Segall e Mário LagoMário
Mário e Beatriz fizeram uma dupla dinâmica na trama
Em meio ao debate, destacaram-se as atuações de Mário Lago (que interpretou o doutor Molina) e Beatriz Segall ( a miss Penelope Brown), ambos médicos do Centro de Reprodução Humana. Os personagens foram homenageados anos depois, quando reapareceram em participação especial na novela O Clone, em 2011.
Ultrapassando a telinha
Durante a exibição do folhetim, vários especialistas discutiram - dentro e fora da ficção - sobre quem deveria ficar com a criança, se a mãe biológica ou a de aluguel (que não conseguiu se distanciar da emoção de gerar uma nova vida em seu ventre). O público ficou dividido, pois era um drama diferente, que nenhuma outra novela havia mostrado até então. Na época, as pessoas ainda estavam aprendendo sobre a técnica de inseminação artificial e como era possível uma pessoa gerar um filho que, teoricamente, não seria seu.
A TV na TV
Nos últimos capítulos foram exibidos depoimentos sobre o tema com pessoas nas ruas, exibidos num espécie de programa ficcional dentro da própria novela, em que os personagens assistiam como se fosse um telejornal.
Sucesso das 18h
Barriga de Aluguel trouxe assuntos que interessavam na época, como a situação da saúde pública e a dos dançarinos no Brasil, com os personagens do Copacabana Café:
A atriz Marilu Bueno voltou no folhetim como Sulamita, sua irreverente personagem na trama Partido Alto, de 1984;
Entre outros conflitos da obra estava o do médico Baroni (Adriano Reys), casado com Aida (Reneé de Vielmond), mas que mantinha um caso com Luísa (Nicole Puzzi);
Como de costume, Glória Perez jogou outra grave questão no ar ao mostrar, por meio da jogadora Ana, a crise pela qual passava o voleibol brasileiro;
O folhetim teria inicialmente 189 capítulos, mas, devido ao atraso da novela Salomé - que seria exibida em seguida - foi estendido para 243. Com essa alteração, fi uma das novelas mais longas da TV Globo, ficando atrás de Irmãos Coragem (1970), com 328 capítulos;
A novela foi cotada para ir ao ar no horário nobre, devido ao seu tema polêmico. Por outro lado, alguns diretores queriam acabar com folhetins muito dramáticos às 21h.
60 pontos
Essa foi a audiência conquistada pela trama em seu último capítulo!
Texto de Nucia Ferreira
publicado na revista TV Brasil n/n 805
Túnel do tempo
Fotos: Divulgação?Rede Globo.





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