segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Ana Lúcia Torres

Presente em obras que marcaram época na TV, a atriz brilhou na novela Verdades Secretas

Ana Lúcia Torres
Foi quando cursava Ciências Sociais na PUC/SP, em 1965, que Ana Lúcia Torres, de 70 anos, se interessou pela arte de representar. Após saber que a faculdade contava com grupos de teatro, a intérprete da Hilda, de Verdades Secretas, fez teste para tentar uma vaga e sua aprovação foi imediata! No ano seguinte, trancou o antigo curso e partiu para Lisboa, onde estudou Artes Cênicas. Mas ainda não seria dessa vez que uma atriz nasceria de forma definitiva, pois ao conhecer seu primeiro marido, Ana mudou de planos e foi morar com ele na Noruega, onde trabalhou como camareira e vendedora. Depois, viveu na Inglaterra e, apenas aos 30 anos, em 1975, fez sua primeira peça profissional no Brasil, Equus. A partir daí, o mundo artístico se apropriaria de vez do talento de Ana Lúcia.  

Com quase 40 anos de carreira e sempre presente na telinha, Ana Lúcia Torres acumulou trabalhos especiais na dramaturgia e ajudou a construir a história das novelas na televisão brasileira. Agora, a atriz relembra alguns dos papeis mais importantes de sua trajetória e confessa: se pudesse, teria vivido Eliza Doolittle, de Audrey Hepburn, no filme Minha Bela Dama" (1964). "É a única mocinha que eu gostaria de ter feito (risos), brinca a manauara. "Eu sou muito afortunada! No teatro já passei por musicais, tragédias, comédias, farsas, tudo que é possível. E, na televisão, fiz muito drama, comédia também e belíssimas vilãs (risos) Eu adoro! Ela te dá muitos recursos", afirma a atriz. Confira os papeis que marcaram sua carreira!   

O começo na telinha
  Em sua estreia na TV, no papel da milionária Glorita, de Dona Xepa (1977).
A estreia na TV foi em Dona Xepa (1977), em que Ana deu vida à Glorita, a antagonista da personagem que dava nome à trama. As cenas carregadas de forte carga dramática permitiram que a atriz mostrasse a que veio já em sua primeira vez na telinha. "É inesquecível por ser a primeira novela que fiz e pela personagem maravilhosa que tive a oportunidade de interpretar. A Glorita queria muito fazer parte da alta sociedade e fazia vilanias para conseguir (riso). Amei fazer esse papel cômico".

Muitos risos por conta da personagem hipocondríaca, Juraci. que desempenhou no clássico Tieta ( 1989). ""Como deixar essa de fora? Fazia uma personagem hipocondríaca e era muito gostoso, mas eu achava um exagero. Até as pessoas me pararem na rua para contar de parentes que faziam o triplo! Foi um papel que me abriu muitas portas. Depois desta novela, comecei a trabalhar cada vez mais."

Como Celina em Ciranda de Pedra (1981)
Quatro anos depois, Ana participou de outro folhetim que marcou época. Em Ciranda de Pedra, coube à artista interpretar Celina, uma típica mãe de família. A personagem era casada com Cícero (Castro Gonzaga) e tinha dois filhos: Luis Carlos (Roberto Pirillo) e Letícia (Mônica Torres)."Acho que posso classificá-la como um verdadeiro clássico da televisão brasileira. Não apenas pelo elenco talentosíssimo, que tinha Lucélia Santos e Armando Bógus, mas também por ter uma história pura, delicada e muito cativante!".


Obras antológicas


Como Quitéria, mãe da personagem Santinha (Patrícia França), em Renascer (1993)
Fazer parte do elenco de novelas históricas parece ser uma espécie de vocação da artista, pois ela ainda esteve presente na primeira fase de Renascer (1993). Sua participação foi tão marcante que fez com que os primeiros capítulos da segunda fase fossem rejeitados pelo público. No início desse folhetim antológico, a atriz interpretou a forte Quitéria, mãe da personagem Santinha (Patrícia França)."Quitéria era uma mulher sofrida, que caía diante da dureza do marido Venâncio, vivido pelo Cacá Carvalho. Nunca é fácil encarnar a tristeza, ainda mais quando ela amava tanto as filhas e sofria demais."

Viveu a Cleonice em A Indomada
"Em A Indomada: imensa alegria por contracenar com Ary Fontoura e Eva Wilma. "Essa foi especial simplesmente pelo fato de eu poder trabalhar ao lado do Ary Fontoura como meu marido. Tenho um carinho sem tamanho pelo Ary. Me sinto muito feliz por ter aproveitado esse privilégio. Assim como ter a Eva Wilma como parceira de cena. Já trabalhamos juntas em outras oportunidades e é sempre um prazer enorme".




Viveu Leonor em O Cravo e a Rosa (2000) com Pedro Paulo Rangel
Sucesso absoluto de público e crítica, O Cravo e a Rosa (2000) contou com o talento de Ana Lúcia Torres na pele de Leonor, a fiel funcionária da fazenda de Petruchio (Eduardo Moscovis), que se metia na vida amorosa do patrão e sentia falta de viver um grande amor. Ao longo da trama,disputou o coração de Calixto (Pedro Paulo Rangel) com Mimosa (Suely Franco), mas não conseguiu fugir do seu destiono e continuou 'encalhada'. "Sabe o que foi curioso de ter feito essa novela? Minha personagem Leonor, que era cozinheira do Petruchio (Eduardo Moscovis) tinha como peça de seu figurino um par de botinas, duas roupas, dois aventais e só! Era tão simples e foi muito divertido participar da história!"

Momentos de consagração

Com Flávia Alessandra
Como Débora, a diabólica mãe da vilã Cristina (Flávia Alexandra), em Alma Gêmea (2005)
Apesar de não ser escalada para protagonizar novelas, Ana Lúcia se destaca em todos os seus trabalhos, e Alma Gêmea (2005) - outro êxito do horário das 18h - foi mais uma prova disso. Na pele da ambiciosa Débora, mãe da vilã Cristina (Flávia Alessandra), a atriz deu show de interpretação a cada capítulo. "Esta novela me marcou muito. Débora era uma personagem fortíssima em muitos sentidos. Ela tinha uma maldade que assustava mesmo, mas era um delícia para fazer. Uma das vilãs que me deram muito prazer em interpretar, com certeza".
Roubou a cena na pele da fofoqueira e bebunzinha Tia Neném, em Insensato Coração (2011), aqui ao lado de Natália do Vale.
A mesma história se repetiu em Insensato Coração (2011), quando a veterana fez da Tia Neném a personagem mais popular do folhetim. E olha que ela não era nenhuma santinha! Rancorosa e fofoqueira, Neném adorava destilar seu veneno nas reuniões de família. A experiente atriz, no entanto, humanizou a personagem de maneira tão significativa que o público logo percebeu que, por trás de tanta acidez, vivia uma senhora frágil e solitária.




A atriz intérprete da Verbena de Amor Eterno Amor (2012), fala de sua personagem que morre nos primeiros capítulos e volta do além para proteger o filho.Espírita, Ana Lúcia conta que se emocionou muito  em. "Adorei fazer esta novela porque ganhei um lindo presente com a Verbena. Ela sofria uma dor, desencarnava, aprendia sobre sua história e, então, se preparava para retornar à vida. Foi extraordinário para mim!"
A austera Gertrudes, de Joia Rara (2013) mostrou o lado mais misterioso dessa grande dama."Geralmente era uma governanta severa, rígida, uma pessoa diferente de mim. E tinha uma paixão muito grande que guardava para si, mas com muita esperança de conseguir concretizá-la. Joia Rara foi uma novela belíssima, justamente premiada com o Emmy Internacional."

A convivência com espíritos para mim é normal

Depois de divertir e multo o público no papel de Tia Neném, a deliciosa picareta de Insensato Coração (2011), Ana Lúcia Torre agora comove todo mundo com a sofrida e generosa Verbena, de Amor Eterno Amor. Na história, ela é mãe de Rodrigo/(Carlos (Gabriel Braga Nunes), que desapareceu da porta da casa da personagem ainda menino.

Após uma busca de 30 anos, Verbena morre pouco depois de ter a felicidade de reencontrá-lo. Só que a triste história não termina aí, já que ela voltará, enquanto espírito, para orientar e proteger o filho. O misticismo abordado pela autora Elizabeth Jhin, aliás, é natural para a atriz  criada em uma família espírita.

A novela aborda ainda o importante tema do desaparecimento de crianças. E Ana Lúcia  pretende representar a luta das mães com a mesma firmeza com que buscam os herdeiros. "Acho admirável essa determinação. Uma mãe não desiste do filho nunca!"
Como Hilda em Verdades Secretas (2015)
Agora, em Verdades Secretas, Ana Lúcia Torres emocionou em suas cenas com uma interpretação visceral e, mais uma vez, colhe elogios calorosos (e merecidos) do público e da crítica. "Uma novela que trouxe à tona assuntos importantes e existentes. Hilda teve um papel fundamental na vida da filha, Carolina (Drica Moraes), e, principalmente, da neta, Angel (Camila Queiroz). É especialmente bom fazer parte de uma história que é contemporânea e trata muito bem de assuntos pertinentes à sociedade!".

Na vida real a estrela é mãe do músico Pedro Lobo, e avó de Marcos e André, de 5 e 3 anos. A maternidade, aliás, também tem sido exercida de forma divertida neste momento da vida da artista. Ela está em cartaz em São Paulo com a peça Como se Tornar uma Super Mãe em 10 lições. Confira nossa entrevista com essa fantástica intérprete.

TITITI - Como se preparou para viver a mãe de um menino desaparecido?

Ana Lúcia - Não foi preciso nenhum laboratório. A gente convive com esses casos todos os dias. Lê sobre a busca das mães nos jornais, vê as passeatas que realizam nas ruas, no Brasil e em outros países. As Mães da Praça de Maio, da Argentina, por exemplo, são referência da luta dessas mães.

TITITI - Gostaria de mandar uma mensagem para elas?

Ana Lúcia - Não percam a força que não as deixa desistir jamais! A garra para ir às ruas, às cracolândias, à internet, aos jornais atrás dos filhos.

TITITI - Viver uma situação assim, mesmo que numa novela, deve ser difícil... Como está lidando com isso?

Ana Lúcia - Ela tem tristeza, lógico, mas é uma pessoa pra cima. Uma mulher que tem alegria. Claro, de vez em quando dá uma murchadinha, mas não transformou o desaparecimento do filho num buraco negro. Pelo contrário! Fez esse fato ser transformador para ela. Montou uma ONG, procurou ajudar outras mães... Tem gente que sobrevive à base de remédios, em eterna depressão.Outras mães, como a Verbena, dão a volta por cima e procuram mudar o mundo.

TITITI - Ela morre depois de reencontrar Rodrigo, não?

Ana Lúcia - Sim, mas continuará na novela como espírito. O intuito será ajudá-lo  durante a vida dele. Do plano espiritual, ela continuará a proteger esse filho. Mas o tema é natural para mim... Minha família é toda espírita. Desde os 5 anos já convivia com o kardecismo. Então isso facilita. Quando o tema já está inserido em sua vida, é bem mais fácil.

TITITI - Então ver e conviver com seres de outro plano para você é algo comum?

Ana Lúcia - Não sou médium vidente. Meu pai era. Mas a convivência com espíritos, para mim, é normal. Cada um de nós tem um tipo de mediunidade, que desenvolve mais ou menos.

TITITI - Por que o kardecismo vem tendo tanta aceitação nas novelas e no cinema?

Ana Lúcia - Acho que a gente está num mundo tão alucinado que cada vez mais as pessoas buscam uma religião, seja ela qual for. A espiritualidade tem realmente despertado mais atenção. Elizabeth Jhin soube perceber e incentivar isso. E o tema é muito interessante, não?

TITITI - Mudando de assunto, gostou de seus cabelos brancos?

Ana Lúcia - Adorei. Achei a peruca bonita, tem um corte moderno. Estou até pensando em adotar no meu dia-a-dia, porque esse visual é muito prático. Só de não ter que ficar toda hora pintando o cabelo... Mas o ruivo que uso fora das gravações também não é meu, é da mãe judia que interpreto no teatro.

TITITI - E vai acumular a peça  com a televisão?

Ana Lúcia - Sim. Gravo a novela de segunda a quinta, e faço a peça de sexta a domingo. Dia livre, agora, nem pensar.

TITITI - Nem para um lazer?

Ana Lúcia - Olha, sou muito feliz em tudo que faço, e a alegria ajuda muito a gente. Meus dois netos também auxiliam a me manter sempre jovem!

Na telinha

1977 - Dona Xepa
Glorita Camargo
1981 - Ciranda de Pedra
Celina
1998 - Tieta
Juraci 1993 - Renascer
Quitéria
1997 - A Indomada 
Cleonice 2000 - O Cravo e a Rosa
Leonor
2005 - Alma Gêmea
Débora Saboya
2011 - Insensato Coração
Tia Neném
2012 - Amor, Eterno Amor
Verbena
2013 - Joia Rara
Gertrude
2015 - Verdades Secretas
Hilda


Por Wal Ribeiro.

Publicado na revista TITITI.
Fotos: TV Globo/Estevam Avellar - TV Globo/Divulgação  

e por Cristina Souza

da revista TV Brasil n/n 811
Trajetória e por 

Carolina Rossini

da revista Minha Novela 
Edição de 16/10/2015 n/n 841
Fotos: Divulgação/Rede Globo 

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