quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Germano Romero - Não Se Encontra Deus No Barulho




um conto-uma crônioca

Toda vez que passeio pelo mato, por um bosque, por uma floresta, sinto, invariavelmente, uma energia que emana da Natureza e que me transporta para um plano emocional muito acima de onde estou. É rápido. Ocorre assim que experimento o cheiro de mato, a intimidade com as plantas, vejo uma borboleta que namora uma flor, ouço um grilo que canta escondido, o vento na folhagem, um pássaro que sobrevoa e solfeja sua mensagem, ou percebo um feixe de luz que mira o solo por entre os galhos.

Curiosamente, logo me dá uma vontade de orar. Decerto, o espírito, o perispírito, a aura, ou o subconsciente me informam que, em prece, aquela sintonia se consolidará. Pode ser qualquer forma de prece, desde que seja verdadeira, plena.

Lembrando que uma prece só traz efeitos benéficos se você se esquecer de si próprio, reduzir a individualidade ao máximo, para poder crescer em transcendência cósmica. Procurar viver aquele instante de magia da forma mais intensa e abrangente possível, sem pensar nas suas necessidades, nem ter intenção de pedir algo para si. Ao invés de pedir, tente receber, tente se entregar. Só assim você recolherá as verdadeiras bênção de uma prece.

Deve ser por essa razão que Jesus sempre preferiu o contato com a Natureza, com o silêncio dos montes e das plantas, quando orava. Daí ficarmos impressionados com alguém que seja capaz de imaginar que gritando ao lado de um trio elétrico ensurdecedor, em meio a uma multidão, cantando hinos decorados, esteja em estado de prece.

Alguns que são dados a essa prática, se dizem cristãos, mas contrariam completamente a recomendação do Cristo: "Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo. Não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas, e nas esquinas das ruas, para serem vistos"!.

Também se devem evitar as preces decoradas, reprisadas, para não contrariar outro ensinamento de Jesus: "Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos".

Na verdade, nesses momentos de interação com as vibrações da Natureza, nem as palavras, ou mesmo os pensamentos devem vir à mente. Basta sentir, respirar, inspirar, diluir-se na magia da existência, da vida, da fala, que brilha em tudo, em todos, e ora junto conosco.

Germano Romero é arquiteto e bacharel e  Música.

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 19 de junho de 2015
Opinião  

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