um conto-uma crônica
Onde está o barulho?
Não, eu não quero saber onde está o barulho. Desejo saber onde ele não está. Pois onde há barulho, não há reflexão. Lembremos de que a notável missionária Madre Teresa de Calcutá advertiu: "Não se pode encontrar Deus no barulho".
E começo me referindo ao amanhecer. Aqui para nós, haverá espetáculo mais belo do que o amanhecer, quando o sol começa a iluminar o mundo? O amanhecer é Deus sorrindo, é Deus falando na sua mudez. Cantam os pássaros, sobretudo os bem-te-vis, que são os pássaros mais alegres do mundo. E eu imagino se o nosso amigo urubu tem inveja deles... O urubu não canta. Sim, mas limpa a sujeira. E sabe voar como nenhum outro pássaro.
Mas onde está o barulho? Nas nuvens? Ora, ora, elas deslizam no firmamento, num belo silêncio. Quando eu viajo de avião, abro logo a janelinha para ficar contemplando o desfile das nuvens. E chego a esquecer a viagem.
Será que o barulho está no mar?Também não. O mar só faz marulho. E que dizer do crepúsculo? É também uma despedida silenciosa, nostálgica, que dá saudade. Aliás, tudo que se ausenta dá saudade.
Ah, o barulho está no nosso corpo. ledo engano. Nosso corpo é feito de silêncio.
Quando respiramos, que o oxigênio entra pelas nossas narinas, quanta paz. Os pulmões respiram em silêncio, o coração bate em silêncio, o sangue corre sem zoada. E a sagrada gravidez?
Então, onde estaria o barulho? Na nossa consciência, esse templo sagrado? Ah, a consciência, que silêncio dentro dela!...
Silêncio, barulho, já sei... O homem é que faz barulho. Refiro-me ao homem comum, vulgar, que não pensa, não reflete. Duvido que um filósofo faça barulho. Todo o imenso universo só exala silêncio. Um silêncio místico. Aliás, quem pensa não faz barulho.
Carlos Romero. Membro da Academia Paraibana de Letras.
Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 7 de fevereiro de 2016
Opinião
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