sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Risco Do 'Coração Partido' - Sofrimento Também Mata


O cardiologista Valério Vasconcelos alerta que emoções negativas podem causar síndrome que se comporta como infarto.

Ao longo do Setembro Vermelho muito se falou sobre fatores de risco para as doenças cardiovasculares, a exemplo do diabetes, tabagismo, obesidade e hipertensão.

Mas, até mesmo quem goza de plena saúde e não se incluí nos grupos de risco, está sujeito a morrer de doença cardíaca. A síndrome de takotsubo, também conhecida como síndrome do coração partido, é uma doença similar ao infarto, provocada por emoções negativas como perda de um amor, morte de um ente querido ou outras situações de forte estresse. Pode afetar qualquer pessoa e ainda não há estudos específicos sobre a prevalência da doença, mas especialistas estimam que as mortes causadas pela síndrome do coração partido respondem por 2% dos óbitos por doenças cardíacas no Brasil.

Segundo o cardiologista Valério Vasconcelos, diretor do Centro de Referência em Atenção à Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a doença se apresenta da mesma forma que um infarto, com uma única diferença de não ser provocada por obstrução de artéria.

"Se ela acontece com pessoas saudáveis, que não tenham outras doenças, como diabetes e que não tenham debilidades como idade avançada, as chances de recuperação são bastante altas.Caso contrário, pode levar à morte da mesma forma que o infarto convencional, sendo que, as invés de artéria obstruída, isso acontece por conta da vasocostricção (estreitamento da artéria)", afirmou. Vasconcelos explicou que a síndrome é fruto do excesso de adrenalina no organismo, consequência das emoções negativas.

A síndrome de takotsubo foi relatada pela primeira vez em 1990, no Japão e ganhou esse nome por conta do formato que o ventrículo esquerdo assume, em situação de estresse, se assemelhando  a uma ferramenta (takotsubo) utilizada por pescadores japoneses para pegar polvos. Algo semelhante a um vaso de barro brasileiro, utilizado para armazenar água, cilíndrico, com corpo largo e abertura estreita.

Em 2006, a Associação Americana do Coração classificou a doença como cardiomiopatias adquiridas ou cardiomiopatia induzida por estresse. Mas ainda não existe uma classificação internacional de doenças (CID) específica para ela.

Tratamento e prevenção

Segundo Valério Vasconcelos, por não existir a formação de trombo (obstrução) nas artérias, o tratamento da síndrome  do coração partido não é intervenção cirúrgica. Na maioria dos casos, após a crise, o coração volta a seu estado normal em duas semanas.

"Os medicamentos prescritos tem por objetivo o alívio dos sintomas, como as dores no peito, muito comuns na síndrome. Também é feito tratamento de suporte, com uso de inibidores de enzimas e bloqueadores do receptor dessas enzimas", detalhou.

O nível de sequelas da síndrome do coração partido vai depender do perfil do paciente. Segundo Vasconcelos, a genética, estrutura física, hábitos de vida e a existência ou não de outras doenças, serão determinantes.

"A consequência mais comum é o paciente ficar com uma disfunção na contratilidade no ventrículo afetado. É uma deficiência de contração na bomba propulsora do sangue, que resulta em insuficiência cardíaca", disse.

O estresse é inevitável e atinge a qualquer pessoa. Mas a recomendação médica é que esse sentimento seja trabalhado.

"É fundamental lidar com o estresse. Buscar atividades como música, esportes, ações sociais, religiosas, coisas que dão prazer e que possam redirecionar o foco dos sentimentos. Também é importante buscar a socialização, seja com amigos ou com a família, para não digerir o problema sozinho ou trancá-lo dentro da mente, ou um psicoterapeuta", alertou.

"O risco de sofrer um ataque cardíaco pode aumentar até 21 vezes nas primeiras 24 horas após a perda de um ente querido.  O luto da dor, depressão ansiedade e raiva são fatores que podem levar a um ataque cardíaco do mesmo jeito que acontece no infarto. A adrenalina faz com que haja uma diminuição da circulação de sangue em um setor do coração. A artéria se fecha e não leva sangue para uma parte do coração, fazendo com que o músculo fique sem funcionar."

Valério Vasconcelos. 
Cardiologista

Por Ainoã Geminiano

Publicado no jornal Correio da Paraíba
Edição de 29 de setembro de 2016
Cidades B3
Setembro Vermelho

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