sábado, 3 de dezembro de 2016

Eu Sou O Samba


Rei do terreiros. O gênero musical brasileiro por excelência completa hoje 100 anos do registro de sua primeira canção; veja os nomes mais importantes de sua história.

Há controvérsias sobre a origem do samba e certamente ele já existia antes que Donga e Mauro de Almeida registrassem na Biblioteca Nacional, no Rio, a letra de "Pelo telefone" como samba carnavalesco", em 27 de novembro de 1916. Esta acabou sendo o "registro de nascimento" do samba, há exatos 100 anos.

Muita água rolou a partir daí. O samba derivou-se em samba-exaltação, samba-enredo, samba-canção, partido-alto, bossa nova e até pagode românticos. Mas nunca foi deixado para morrer (como alertaram Edson Conceição e Aloísio Silva na voz de Alcione) e sempre voltou ao cavaco,pandeiro e tamborim quando a rapaziada sentiu falta (como avisou Paulinho da Viola).

Mais do que "a voz do morro" (como definiu Zé Kéti), o samba é a voz do Brasil. Ao lado, elencamos 15 personalidades fundamentais.Claro, muitos ficaram de fora (Sinhô, Ismael Silva, Ataulfo Alves...) - sem atravessar o samba.  

Personagens . 15 personagens que deixaram sua marca no samba.

Donga
Donga
Com Mauro de Almeida Donga registrou em 1916 a letra de "Pelo telefone" na Biblioteca Nacional como um "samba carnavalesco"Eles usaram versos criados na casa da baiana Tia Ciata.
Pelo Telefone:O chefe da folia/Pelo telefone manda avisar/Que com alegria não se questione/Para se brincar/Ai, ai, ai/Deixa as mágoas para trás ó rapaz!/Ai, ai, ai/Fica triste se és capaz e verás...

Noel Rosa

Noel Rosa

De vida brevíssima e grande produção, Noel fez parte de uma cena que aproximou a classe média do samba dos morros."Com que roupa" (1929) e "Palpite Infeliz" (1935) são alguns clássicos.
Palpite Infeliz:Quem é você que não sabe o que diz?/Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!/Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,Oswaldo Cruz e Matriz/Que sempre souberam muito bem/Que a Vila Não quer abafar ninguém/Só quer mostrar que faz samba também...


Carmem Miranda

Carmem Miranda
Carmem contribuiu como o canto de samba com o tom coloquial carioca. Foi a principal cantora de sua época , com sucesso como O Que É Que A Baiana Tem?
O que é que a baiana tem? O que é que a baiana tem?/Tem torso de seda tem (tem)/Tem brinco de ouro tem (tem)/Corrente de ouro tem (tem)/Tem pano da Costa tem (tem)/Tem bata rendada tem (tem)/Pulseira de ouro tem (tem)/E tem saia engomada tem (tem)/Tem sandália enfeitada tem (tem)/E tem graça como ninguém...!/O que é que a baiana tem?... 

Dorival Caymmi 

Dorival Caymmi 
O samba da Bahia tem sua maior referência em Caymmi e sua ligação com o mar e as tradições de sua terra. Como em ""O samba da minha terra" (1940).
O Samba da Minha Terra:O samba da minha terra deixa a gente mole/Quando se canta todo mundo bole/Quando se canta todo mundo bole/Eu nasci com o samba/No samba me criei/Do danado do samba/Nunca me separei/Quem não gosta de samba/Bom sujeito não é/É ruim da cabeça ou doente do pé/Eu nasci com o samba/No samba me criei/Do danado do samba/Nunca me separei...

Cartola

Cartola
Um grande poeta e sua ligação umbilical com a Mangueira. Comandou com D.Zica o Zicartola, QG do samba nos anos 1960, e compondo pérolas como As Rosas Não Falam.
As Rosas Não FalamBate outra vez/Com esperanças o meu coração/Pois já vai terminando o verão/Enfim/Volto ao jardim/Com a certeza que devo chorar/Pois bem sei que não queres voltar/Para mim/Queixo-me às rosas/Mas que bobagem/As rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubam de ti, ai/Devias vir/Para ver os meus olhos tristonhos/E, quem sabe, sonhavas meus sonhos/Por fim.

Ary Barroso

Ary Barroso
Ninguém fazia samba-exaltação como Ary Barroso. O maior deles é claro,"Aquarela do Brasil" (1939), nosso hino informal. Também enalteceu a Bahia em "No tabuleiro da baiana" (1930) e outras.
Aquarela do Brasil: Brasil/Meu Brasil brasileiro/Meu mulato inzoneiro/Vou cantar-te nos meus versos/Ô Brasil, samba que dá/Bamboleio que faz gingar/Ô Brasil, do meu amor/Terra de Nosso Senhor/Brasil, Brasil/Pra mim, pra mim...

Adoniran Barbosa



Adoniran Barbosa
Adoniran abusou do linguajar próprio para criar um samba legitimamente paulistano em "Saudosa maloca" (1951), "Samba do Arnesto"(1953), e "Trem das Onze"(1965), entre outras.
Trem das Onzes:Não posso ficar/Nem mais um minuto com você/Sinto muito amor/Mas não pode ser./Moro em Jaçanã/Se eu perder esse trem/Que sai agora às onze horas/Só amanhã de manhã/Não posso ficar...

Dolores Duran



Dolores Duran
Com "A Noite do Meu Bem" (1959) ,Dolores se afirmou entre os grandes compositores do samba-canção, subgênero que dominou as boates cariocas nos anos 1950 e 1960.
A Noite do Meu Bem: Hoje eu quero a rosa mais linda que houver/E a primeira estrela que vier/
Para enfeitar a noite do meu bem/Hoje eu quero paz de criança dormindo/E abandono de flores se abrindo/Para enfeitar a noite do meu bem/Quero a alegria de um barco voltando/Quero ternura de mãos se encontrando/Para enfeitar a noite do meu bem/Ah! eu quero o amor, o amor mais profundo/E quero toda beleza do mundo/Para enfeitar a noite do meu bem/Ah! como este bem demorou a chegar/Eu já nem sei se terei no olhar/Toda pureza que eu quero lhe dar.

João Gilberto
João Gilberto
João criou a "batida diferente" que consagrou a bossa nova, com "Chega de Saudade" (1959), de Tom e Vinícius. Também regravou sambistas da velha guarda trazendo-os de novo à luz.
Chega de SaudadeVai minha tristeza/E diz a ela que sem ela não pode ser/Diz-lhe numa prece/Que ela regresse/Porque eu não posso mais sofrer/Chega de saudade/A realidade é que sem ela/Não há paz não há beleza/É só tristeza e a melancolia/Que não sai de mim/Não sai de mim/Não sai/Mas, se ela voltar/Se ela voltar que coisa linda!/Que coisa louca!/Pois há menos peixinhos a nadar no mar...

Tom Jobim

Tom Jobim
O maestro da bossa nova teve a companhia de Newton Mendonça e Vinícius de Moraes nas letras para reinventar o samba, em "Samba de uma nota só" (1960) e "Garota do Ipanema"(1962), entre outras.
Garota do Ipanema:Olha que coisa mais linda/Mais cheia de graça/É ela menina/Que vem e que passa/Num doce balanço/A caminho do mar/Moça do corpo dourado/Do sol de Ipanema/O seu balançado é mais que um poema/É a coisa mais linda que eu já vi passar/Ah, por que estou tão sozinho?/Ah, por que tudo é tão triste?/Ah, a beleza que existe/A beleza que não é só minha/Que também passa sozinha.Ah, se ela soubesse/Que quando ela passa/O mundo inteirinho se enche de graça/E fica mais lindo/Por causa do amor.


Chico Buarque

Chico Buarque
Quando começou, ele foi chamado de "novo Noel Rosa".Logo mostrou sua combinação própria de poesias e combatividade em canções como "Roda Viva"(1967) e "Vai passar" (1984).
Roda Viva:Tem dias que a gente se sente/Como quem partiu ou morreu/A gente estancou de repente/Ou foi o mundo então que cresceu/A gente quer ter voz ativa/No nosso destino mandar/Mas eis que chega a roda-viva/E carrega o destino pra lá/Roda mundo, roda-gigante/Roda-moinho, roda pião/O tempo rodou num instante/Nas voltas do meu coração...

Paulinho da Viola
Paulinho da Viola
Foi no Zicartola que ele virou Paulinho da Viola. Portelense, criou "Foi um rio que passou em minha via"(1970) para a escola. Outros clássicos são "Argumento"(1975) e "Dança da solidão (1972).
Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida:Se um dia/Meu coração for consultado/Para saber se andou errado/Será difícil negar/Meu coração tem manias de amor/Amor não é fácil de achar/A marca dos meus desenganos/Ficou, ficou/Só um amor pode apagar...

Martinho da Vila

Martinho da Vila
Popularizou o partido-alto e renovou os sambas-enredo, além de fazer grande sucesso de público. "Canta, canta, minha gente" (1974) é um hino. "Disritmia" (1974) é outro de seus clássicos.
Canta, Canta, Minha Gente:Canta, canta minha gente/Deixa a tristeza pra lá/Canta forte, canta alto/Que a vida vai melhorar...

Beth Carvalho
Beth Carvalho
Do início na bossa nova, Beth abraçou o samba e se tornou uma das mais importantes intérpretes do gênero, em "1800 colinas"(1974), "Saco de feijão"(1977) "Vou Festejar" (1978).e "Coisinha do pai"(1979).
Vou Festejar:Chora, não vou ligar/Chegou a hora/Vais me pagar/Pode chorar, pode chorar/És, o teu castigo/Brigou comigo/Sem ter por que/Vou festejar, vou festejar/O teu sofrer, o teu penar/Você pagou com traição/A quem sempre lhe deu a mão/Você pagou com traição/Há quem sempre lhe deu a mão.

Clara Nunes

Clara Nunes
A mineira que abraçou o candomblé é outras das intérpretes mais importantes do Brasil que lançou em 1968 a música Você Passa, Eu Acho Graça" sem muito sucesso,mas depois teve uma  fase brilhante que inclui "Canto das três raças (1976) e "Coisa da antiga"(1977).
Você Passa, Eu Acho Graça:Quis você pra meu amor/E você não entendeu /Quis fazer você a flor/De um jardim somente meu/Quis lhe dar toda ternura /Que havia dentro de mim /Você foi a criatura /que me fez tão triste assim/Ah, e agora, você passa/eu acho graça /Nessa vida tudo passa /E você também passou /Entre as flores, você era a mais bela/Minha rosa amarela/Que desfolhou, perdeu a cor...

Por Renato Félix 

Publicado no jornal Correio da Paraíba 
Edição de 27/11/2016
Caderno 2
Fotos:Do jornal Correio da Paraíba

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