sexta-feira, 23 de março de 2012

Carlos Romero - Saber Olhar

Busto de Tamandaré 
um conto - uma crônica
Vai, aqui, um teste para você. Será que seu olhar já foi atraído pelos coqueiros das praias de Tambaú e Cabo Branco? Ou passou indiferente a eles, como se fossem postes? Lembrem-se de que nem sempre quem olha, vê. Ver é outra coisa, é olhar com profundidade, com o sentimento.



Mas vamos à crônica. Ao sair da avenida Epitácio Pessoa, ao invés de olhar para o busto de Tamandaré, que, por sinal, está de costas para o mar, dê uma espiada nos muitos coqueiros daquela orla, com seu perfil feminino, e veja como eles são belos. Aí me chega à memória aquela modinha, cantada nos cocos da praia (coco, aqui, é a dança folclórica), e que dizia assim: "Segunda-feira, vou comprar um sítio, os coqueiros estão bonitos à beira-mar..."



Só isso. E, aqui para nós, nada encanta mais os nossos olhos do que um coqueiral. Como os coqueiros lembram pontos de admiração! Admiração pela paisagem, que tanto embeleza a vida e que tanta admiração causa!



Os coqueiros, é verdade, não dão muita sombra, mas dão frutos, cuja água parece limpar, não só os rins, mas a alma. E como ela é pura, hidrata e nutre! Bem que poderiam substituir o vinho de missa pela água de coco.



Meu pai dizia que a água de coco é a melhor bebida do mundo. Não embebeda, não enjoa e parece purificar a alma.

Assim como na Ìndia a vaca é sagrada, o mesmo poderíamos fazer aqui com a água de coco.



Mas o coqueiro não dá apenas água. Do coco se faz tanta coisa...canjica, pamonha, tapioca, molhos, cocada, doce, e por aí vai. Além disso, ele dá palha para cobrir as choupanas e caiçaras, e do seu tronco se faz cercas, bancos, mesas...



Tiremos os olhos dos espigões que esmagam e asfixiam as cidades, que dificultam e impedem a passagem do vento e do sol, e olhemos para os coqueiros das praias, com o mesmo lirísmo com que Jesus contemplou os lírios do campo...



E fico a refletir. Por que o coco, o fruto do coqueiro, é tão duro de abrir, exigindo uma foice? Tão diferente da maçã, da banana e de outras frutas, com exceção do nosso abacaxi e da jaca?



Mas voltemos aos coqueirais de Tambaú e Cabo Branco. Ali, os coqueiros parecem sentinelas defendendo a praia. Como eles são femininos! Esguios, elegantes.



E para finalizar, repito o conselho.Não faça como o almirante Tamandaré, que, com seus olhos de bronze, e de costas para o mar, não vê a praia, nem as ondas, nem as gameleiras, as castanholas, os coqueiros... Não vê a vida e sua beleza.

Carlos RomeroProfessor e cronista. Membro da Academia Paraibana de Letras.

Publicada no jornal A União.Coluna DestaqueEdição de 05/03/1012. 

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