terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Carlos Romero - A Conversa Chegou na cozinha


Outrora, por conta de um preconceito, a sala de visitas era muito distante da cozinha, que fazia lembrar a Casa Grande, que tinha senzala, onde mourejavam os escravos. A cozinha, donde vinha a nossa refeição, era assim discriminada. As pessoas da casa, dela queriam distâncias. Cozinheira era um personagem desprezível, enquanto Einstein dizia que a pessoa mais importante  de sua vida era a cozinheira, que fazia a sua comida.

Chegou-se ao cúmulo de dizer "a conversa não chegou na cozinha"... Quase ninguém, a não ser a dona da casa, passava por aquele espaço, onde se preparava o nosso alimento. E as pessoas da cozinha falavam baixo. A sala de visita, como o nome indicava, era frequentada pelas pessoas de bem. De bem e de bens. 

Graças ao progresso, às redes digitais, está havendo uma revolução de costumes. O mundo foi se estreitando, graças à tecnologia, as pessoas se encontrando mais, o outro cada vez mais perto da gente. E o preconceito, esta praça social, vai pouco a pouco desaparecendo.

O resultado está aí: a sala de visitas acabou-se obsoleta e a cozinha ocupa a melhor parte da casa. As conversas deixaram de ser privilégio da sala de visita, de gente bem, para se constituir no local mias alegre, onde os que trabalham nela falam abertamente, opinando sobre a candidatura de Lula, sobre as novelas e a situação política do mundo.

A conversa agora está na cozinha.Tudo ali se comenta, se critica. E não falta quem diga, reforçando seus argumentos: "vi isto na Internet".

E toda essa mudança, graças à modernidade, não admite discriminação. No bolso do mais modesto, na escala social, pode faltar tudo, menos um celular.

Hoje, os espaços domésticos são outros: espaços para jogos, para piscina, par ginásticas... Só não há espaço para a meditação, Ora, ora, cronista, quem diabo quer mais mediar, nem saber de se encontrar consigo mesmo?...

Calos Romero. Da Academia Paraibana de Letras

Publicado no jornal Correio da Paraíba
Edição de 23 de janeiro de 2018
Opinião.

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