sábado, 3 de março de 2018

Carlos Romero - É Feliz Aquele Que Canta



Um dia  desse entrou pela janela e chegou aos meus ouvidos uma voz limpa, de quem estava satisfeito com a vida.Soube que era de um trabalhador da construção, decerto, ganhando um salário mínimo e com muitos problemas. Mas talvez ele cantasse para se distrair um pouco, pois a vida anda muito difícil.

Ora vejam só..., um humilde pedreiro, com um trabalho nada suave, cantando alegremente o seu canto, que é uma espécie de terapia, pois há um ditado que diz:"quem canta seus males espanta". Imaginei-me fazendo o seu serviço e cheguei a suar.

O pedreiro faz um trabalho duro que me comove. Não pelo suor que pinga de seu rosto queimado pelo sol, mas pela sua utilidade. Sem o trabalho destes homens que seriam daquelas enormes construções do Altíssimo?Mas aqui o importante é o homem.

E fiquei refletindo: são poucos que durante o trabalho sorriem. Duvido que você encontre um desembargador cantando durante uma reunião plenária, vestido daquela toga preta. Duvido que os médicos cantem no consultório ou no hospital enquanto consultam o doente. Se bem que o meu médico e amigo Marco Aurélio Barros é tão bem humorado que é capaz de cantar entre uma consulta e outra. Não duvido.

Mas quem imaginaria os militares cantando enquanto trabalham? Nem o coveiro durante um sepultamento. Duvido que os engenheiros e arquitetos nos seus escritórios suavizem o trabalho com o canto. Duvido que os senhores executivos, os senhores parlamentares, entoem um canto de alegria, de encantamento diante da vida, enquanto estão em serviço.

O canto é um desabafo. O canto encanta. O canto ameniza as asperezas da vida. E quem canta é porque se sente feliz, de paz com a vida. Quem canta não está pensando, nem sentido coisas ruins. Ninguém canta com ressentimentos, com ódio, com rancor. Ah, como é bom cantar. Que o digam os bem-te-vis.

Carlos Romero. Da Academia Paraibana de Letras

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 20 de fevereiro de 2018
Opinião 

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